17/07/07

Concerto de solidariedade para as vítimas do azar

UM ÁLBUM: FOR ALL THE BEAUTIFUL PEOPLE – SWELL (1998)

Sinto-me determinado no combate àqueles que insistem em considerar a tal palavra como parte integrante da minha vida. Aqueles que, maliciosamente, segredam entre si, quando me vêem: olha, lá vai ele, o azar. A esses, aos que me confundem o nome, apenas lhes digo que tudo não passa de um mito. Os responsáveis por esta mentira vão certamente retratar-se. Um dia. Mas não hoje. Hoje, ao sair de casa, reparei que o meu carro tem dois pneus em baixo. Muito em baixo. Tão em baixo que em baixo fiquei. Ainda por cima, quando o assaltaram há uns tempos, levaram também a chave das rodas. Ou seja, não posso mudar os pneus.

Que se lixe. À espera do autocarro, colo os phones aos ouvidos, ligo o leitor de mp3, e tento esquecer ao som do álbum “Una volta” (2003) dos Devotchka . Um álbum que ainda não conhecia. E continuo sem conhecer. Ou o álbum só tem meia música ou então o mp3 pifou. Marou. Ontem também tinha acontecido. Pensei que fosse bateria e pu-lo a carregar. Pelos vistos, não era. Vou mandá-lo dar una volta.

Por falar em marar. O computador entrou em coma há quase duas semanas, e ontem à noite fiquei quase convencido que a eutanásia é a única saída. Por isso, não tenho aparecido por aqui. Mais cedo ou mais cedo terei que comprar outro.

Decido ser empreendedor e formar o movimento “Against Bad Luck Aid”. O objectivo é realizar um concerto com o intuito de angariar fundos para ser operado ao azar. Andei a sondar alguns nomes para actuarem no meu quintal, em dia a designar. Todos ficaram de me dar reposta. Convidei algumas bandas que gosto: os Hot Chip e os Social Distortion tocarão ao mesmo tempo os seus temas “Bad Luck”, os primeiros no palco principal e os segundos no secundário (no telhado da arrecadação). Para animar, Stuart Staples vai tocar, na íntegra, o seu primeiro álbum a solo: “Lucky Dog Recordings”, de 2005. E os grandes Cocteau Twins reaparecem, logo no meu quintal, para tocar “iceblink luck”:



O concerto encerrará, em ambiente de festa, com mais um efusivo regresso – o dos Verve. Já imagino o meu largo sorriso ao escutar os primeiros acordes de “lucky man”, ao sentir que a cura afinal é possível, ao perscrutar os rostos carregados de esperança dos milhares de pessoas que, nesse dia de glória, vão aderir ao evento.



O alinhamento, ainda incompleto, será conhecido brevemente e o espectáculo tem transmissão televisiva assegurada para todo o mundo. Mundo cão, queria dizer.

Estou a delirar, bem sei. Tento cair em mim, mas como se não bastasse o chorrilho de devaneios e clichés dos parágrafos anteriores, solta-se mais uma frase feita: um azar nunca vem só. Comigo vem sempre em grupo. Mas eu não me inclino perante ele. Tenho a certeza que a minha sorte vai mudar. Ou o meu azar. Ou isso. Também aceito donativos.

P.S. Ah, já me esquecia do SBSR. Já não vou a tempo. O que não faltam para aí são sites e blogs a falar sobre o festival. E há topes e tudo. Aqui fica o meu: Tv on the Radio, Interpol, The Gossip e X-Wife. Também não vi mais nada. A seguir, Incógnito. Uma bela noite, e nem um único azar para estragá-la. Estão a ver? Intriguistas!

03/07/07

O super rock, a super bock, o mp3, o percurso a pé e o autocarro ou vice-versa

UM CONCERTO: PETER MURPHY, NO COLISEU DOS RECREIOS (20/10/1995)

A esta hora já os meus companheiros de blog se divertem, digo eu, no primeiro dia do 2º acto do SBSR. Estão lá hoje, vão lá estar amanhã e vamos lá estar na quinta. Não resisti, é verdade. Se soubesse que algumas das bandas presentes iriam estar em Lisboa brevemente, pensava duas vezes. Preferia vê-los em concerto normal, é um facto, mas gosto de festivais. Ir a um festival é como se, em vez de irmos ver um filme a um cinema onde sabemos que as pessoas são civilizadas, optamos por ir ao Colombo ou às Amoreiras. A única diferença é que, decididamente, não frequento estes cinemas...Os festivais têm muitos inconvenientes: os milhares de pessoas que vão só porque vão, as multidões (que não gosto), as conversas do lado quando estamos a tentar concentrar-nos num concerto, os empurrões e as pessoas a passar-nos à frente, a confusão na entrada, na saída, nas necessidades fisiológicas (incluindo a comida e a bebida)...este é o último a que vou, digo sempre. Sou um mentiroso. Um fraco. Mas não estou com inveja de quem lá está, e é por isso que vou vibrar na quinta-feira com os TV on The Radio e os Interpol, e é por isso que gostava de ver Arcade Fire, LCD Soundsystem e The Rapture, revisitar os Jesus and Mary Chain, rever Maximo Park, etc.. Mas não estou com inveja, vou só ali buscar uma super bock e de quem é a vez de ir buscar agora cerveja?

Uma das exigências do novo emprego foi que largasse o carro e passasse a andar, de novo, de transportes públicos. Nada que me incomode. Não há muito tempo, ia de transportes para o trabalho e gostava, porque no trajecto podia fazer uma das coisas que mais gosto: ler. O problema, agora, é que quase metade do percurso é feito a pé. Ou seja, não dá muito jeito ler a andar, por isso troquei a leitura pelo mp3 (obrigado, miúda). E assim, nos últimos dias, tenho ouvido com atenção álbuns na íntegra, o que não sucedia há algum tempo. Esta semana, vá lá saber-se porquê, peguei na curta discografia dos TV on The Radio. Conhecia muito bem "Desperate Youth, Blood Thirsty Babes", que comprei mal foi editado em Portugal, em 2004. "Return to Cookie Mountain", também já me era familiar, mas não tanto. E, pelo caminho, algumas raridades. Até quinta.