06/09/07

Uns parabéns engasgados

UM ÁLBUM: THE BEEKEEPER – TORI AMOS (2005)

Tenho as palavras tristes. Em vez de exultarem de alegria pelo teu aniversário, como mereces, ficam-se por primeiras sílabas, baralham-se, confundem-se, tropeçam umas nas outras e caem. Onde podiam enaltecer o humor, a boa disposição, a originalidade e outras características que te são peculiares, soltam simples murmúrios, inibem-se, calam-se.

Tenho as palavras débeis, quase mudas, sérias, egoístas. Quando deviam focar-se em ti, com sorrisos, elogios, com alguma sátira e umas quantas frases disparatadas, fogem para lugares inóspitos e sombrios. Ainda por cima, sabem-no bem, tu és a luz dela, e é muita a que irradias, porque te sobra sempre alguma para iluminares, sem poupanças de energia, sem pedidos de devolução, sem exigências, aqueles e aquelas que te admiram e sentem conforto na tua presença. Teria as palavras fundidas, não fossem os dois a fornecer-lhes alguma luz.

Tenho as palavras cruzadas, por riscos que prendem como grades. Se conseguisse, ousava libertá-las para se orgulharem da tua amizade.

Tenho as palavras surdas. Se assim não fosse, estariam, por certo, a expressar-se em música, uma das línguas que ambos gostamos de falar, mesmo que a falemos de maneiras diferentes. Nela vasculho vezes sem conta à procura de nada ou, quem sabe, de alguma felicidade, a única palavra que não se me engasga, talvez porque hoje te pertença a ti. Desfruta-a e continua a partilhá-la, como tens feito até aqui.