26/04/07

Wimbledon 26499

UMA MÚSICA: SILENT AIR – THE SOUND

Manhã de domingo de 26 de Abril de 1999. O dia acabava de acordar. Um homem atira-se para a frente de um comboio na estação de metro de Wimbledon, em Londres. Perdia-se uma vida. Provavelmente uma vida desconhecida para os que lá estavam, mas não para mim. Nem para milhares de desconhecidos, como eu.

Adrian Borland estava a terminar as gravações do álbum “Harmony and Destruction”. Mostrava algum entusiamo e orgulho na gravação deste disco, que sucederia a “5:00”, editado em 1997. No entanto, estava doente. A depressão em que vivia há mais de uma década teve o seu epílogo nessa manhã. Durante a madrugada, foi encontrado num restaurante perto de Kennington, confuso, ouvindo vozes...Foi transportado para casa dos pais pela polícia. Voltaria a desaparecer mais tarde, e o resto já se sabe. Tinha 41 anos.

Para além dos referidos discos, e da edição a título póstumo de “The last days of the rain machine” (2002), “Harmony and Destruction” (2002) e do recentíssimo “The Amsterdam Tapes” (2006), Adrian Borland gravou outros álbuns a solo:

Alexandria (1989)
Brittle Heaven (1992)
Beautiful Ammunition (1994)
Cinematic (1995)

Em 1987, criou os Hononulu Mountain Daffodils; o vocalista, ele próprio, tinha o divertido pseudónimo de Joachim Pimento. Saíram, como álbuns oficiais, “Guitars of the oceanic overgrowth” (1987), “Tequilla dementia” (1988) e “Aloha Sayonara” (1991).

Com o projecto White Rose Transmission, de que faziam parte, entre outros, o seu amigo Carlo van Putten e um ilustre admirador da sua obra, Mark Burgess, a quem obrigatoriamente voltarei (ou não se tratasse do líder de uns tais The Chameleons), tinha acabado de lançar “700 miles of desert”, que sucedia a “WRT”, de 1995.

(Enquanto escrevo este texto, aparece-me aos ouvidos Rougue Beauty de “Alexandria”, perdido entre as compilações que me entretêm o tempo...como se eu acreditasse nestas estranhas coincidências)

Estava prevista uma digressão acústica dos White Rose Transmission para Maio de 1999, que, como era óbvio, não poderia realizar-se sem Adrian Borland. Mas realizou-se, em jeito de tributo. Com muitas músicas dos The Sound.

Como alguém disse uma vez, e fixei estas palavras, a mais famosa banda desconhecida de todos os tempos. Os The Sound são uma das minhas três bandas de sempre (as outras duas ficam para mais daqui a bocado). Não foram, são. Significam-me muito, pela música e pelas letras.

“From the lions mouth”, de 1981, é a minha melhor receita de sempre para a surdez. “Propaganda” (sessão de estúdio de 1979, editado em 1999), “Jeopardy” (1980) e “All fall down” (1982) impedem o seu avanço, se ouvidos, pelo menos, duas vezes por mês. “Shock of daylight”, EP de 1984, é o vinil que os meus ouvidos mais veneram. “Heads and hearts” (1985) revitaliza o ouvido direito, “Thunder up” (1987) apura o ouvido esquerdo. As vitaminas devem ser tomadas em doses pouco moderadas: “In the hothouse” (1986), “The BBC recordings” e os cinco volumes das “Dutch radio recordings”. Tenho quase todos os medicamentos cá em casa e nenhum está fora de prazo. A audição exagerada é aconselhável e não existem contra-indicações.

Graham Green, Michael Dudley, Benita “Bi” Marshall, substituída em 1981 por Colvin “Max” Mayers (desaparecido em 1993), são os outros nomes dos The Sound. No início de uma digressão, em 1987, começaram a surgir os primeiros (ou os últimos?) sintomas da doença de Adrian Borland. A digressão foi cancelada. A banda dissolveu-se.

Em “sense of purpose”, de “From the lions mouth”, escreveu: “I’ll take my life into my own hands…I’m the one that I will blame”.



Em Setembro deste ano, quando for a Londres pela primeira vez, vou parar na estação de Wimbledon. Não vou pôr flores. Não vou ter pressa. Não vou dizer nada, porque o silêncio, eu sei, fala mais alto do que as palavras. Vou esperar, apenas, pelo próximo comboio.

P.S. - Os The Sound tocaram em Lisboa, no Rock Rendez Vous, a 12 e 13 de Julho de 1984. Existem alguns videos de Adrian Borland e dos The Sound disponíveis no youtube.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá,
Somos dois.
Fans para sempre dos The Sound!!
NW