24/06/07

Silver Jews e o mundo de David Berman

UM ÁLBUM: A RIVER AIN’T TOO MUCH TO LOVE – SMOG (2005)

Foi ontem projectado na Esplanada do Chapitô o filme “Silver Jew”, de Michael Truly. Faltei, por só hoje ter tido conhecimento. Não precisava deste pretexto para pegar na obra dos Silver Jews, até porque, pelo que li, não é pelo filme que se fica a saber o que quer que seja sobre a banda.

Os Pavement foram criados em 1990. Um ano antes, dois dos seus membros, Stephen Malkmus e Bob Nastanovich, formaram os Silver Jews, juntamente com um colega de universidade, o poeta David Berman. Com a edição do primeiro álbum dos Pavement, “Slanted and Enchanted” (nome inspirado num cartoon criado por David Berman), Malkmus dedicou-se, com sucesso, ao seu novo projecto, enquanto Berman transformava os Silver Jews num mundo seu. O segundo álbum, “The Natural Bridge” (1996), já não contou com a colaboração dos membros dos Pavement, ao contrário do que tinha sido planeado por Berman.

A história dos Silver Jews confunde-se com a especificidade e inspiração das letras e da música criada por David Berman. Mas confunde-se também, e muito, com o seu repertório de depressões e adição às drogas. Viveu, durante algum tempo, num estado quase miserável, e tentou suicidar-se há cerca de três anos. Perante este cenário, o regresso com o admirável “Tanglewood Numbers”, em 2005, foi surpreendente. “Punks in the beerlight” faz parte de um dos melhores discos que ouvi nos últimos anos.



Para além dos dois álbuns que referi, a discografia dos Silver Jews comporta ainda:

. The Arizona Record (EP – 1993)
. Starlite Walker (1994)
. American Water (1998, de novo com a contribuição de Stephen Malkmus)
. Bright Flight (2001)
. Tennessee (EP – 2001, com a participação de Cassie, a mulher de Berman)

Em “Tanglewwod numbers”, David Berman conseguiu reunir, para além da sua mulher, nomes como Malkmus, Nastanovich e o Sr. Will Oldham. Mas o mais extraordinário deste regresso foi o facto de, pela primeira vez na vida, os Silver Jews terem entrado em digressão. Nos muito intermitentes quinze anos de existência, os concertos dados contavam-se quase pelos dedos das mãos. A semi-inaptidão de David Berman para as actuações ao vivo é bem notória neste registo, gravado em Abril de 2006. “Trains across the sea”, de “Starlite Walker”, é uma das minhas músicas preferidas da década passada.



“Silver Jew” documenta, essencialmente, os passos de David Berman durante os dois dias em que a digressão da banda passa por Israel. Transcrevo o que foi escrito no Ípsilon, a propósito, na sexta-feira: “...vale por isso, pelas conversas com os fãs no final dos concertos, pelo abraço de Berman aos fãs, pelo seu choro quando lê uma oração junto ao Muro das Lamentações, por pormenores mínimos e desligados entre si, de uma humanidade tão minúscula mas premente que parecem impossíveis num «indie-rock-star» e só o são porque o sr. Berman não é deste mundo”. Para mim, felizmente, ainda é.

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